domingo, 6 de março de 2022

A frágil linha tênue entre a autoconfiança e a soberba

Tags do texto: Messi, Cristiano Ronaldo, CR7, Arthur Aguiar, Babu, BBB, Big Brother Brasil 22, autoconfiança, soberba, autoconhecimento, paradoxo.

É alimentado na sociedade um discurso muito positivo sobre reconhecer suas virtudes e tomar posse de suas qualidades; se valorizar. No entanto, existe uma frágil linha tênue entre a autoconfiança e a soberba.

É muito interessante o paradoxo entre ter ciência de suas qualidades e valorizar a si mesmo, mas precisar ter cuidado com a maneira com que você expressa o seu reconhecimento sobre isso.

Messi x Cristiano Ronaldo: um exemplo clássico do tema

Vamos a um exemplo muito popular. Messi e Cristiano Ronaldo são dois dos melhores jogadores de futebol dos últimos anos, todos sabem, e disputam o título de melhor do mundo ano a ano.

Embora os dois já tenham sido eleitos O Melhor Jogador do Mundo diversas vezes, Cristiano Ronaldo tem uma personalidade de reconhecer os próprios méritos e afirmar que é, de fato, o melhor. Já disse, inclusive, em entrevista, que ele tem de pensar que é o melhor no que faz, para fazer o melhor sempre. 

Enquanto isso, Messi tem uma personalidade muitas vezes mais admirada por demonstrar "humildade", que é, talvez, um constrangimento em reconhecer que é o melhor, colocando muitas vezes a equipe e os resultados com o time à frente do seu talento.

Cristiano virou meme na internet (eu sou o melhor/ sou lindo), por conta de sua autoconfiança e de tão curioso que chega a ser uma pessoa não ter impedimentos em reconhecer os grandiosos fatos sobre si mesmo.

Se a gente deveria ter mais autoconhecimento e valorizar o que a gente sabe fazer bem, por que então quando fizemos isso somos alvos de críticas e julgamentos? É paradoxal.

Outro exemplo popular e recente é do participante do Big Brother Brasil 22 Arthur Aguiar que, após voltar de 3 paredões, sentiu mais confiança no seu potencial dentro do jogo, como se não ser eliminado fosse um sinônimo de favoritismo. 

Realmente é um fato que ele voltou de 3 paredões e ele escolheu sentir força e positividade, ao invés de refletir que pode ser apenas que quem foi eliminado era só um jogador mais fraco ou com uma saída mais desejada naquele momento. Essa atitude é vista dentro da "casa" como soberba, que ele está "se achando". 

Lembro que o Babu quando voltava dos paredões ficava muito aliviado e grato por ficar mais uma semana. Gritava, chorava. No meu ponto de vista, ele não acreditava no potencial dele dentro do jogo, porque se a pessoa acredita, com certeza ela sentiria essa autoconfiança com esse fato. 

A gente precisa respeitar os pontos de vista e a história de cada um e como essa pessoa lida com suas emoções, suas virtudes, porque cada pessoa tem sua marca e seus motivos. A classificação de soberba muitas vezes é só um reflexo da nossa falta de autoconfiança e na admiração secreta dessa atitude, mesmo que inconsciente.

A humildade é sim uma virtude, mas a autoconfiança também é.

quinta-feira, 30 de dezembro de 2021

A distribuição do tempo que renova a vida


O sentimento que a virada do ano representa é incrível, para a maioria das pessoas. É tempo de refletir, de repensar, de planejar, é uma sensação de nova chance, e isso só é possível graças à distribuição do tempo que renova a vida.

A gente só tem virada do ano porque existe uma padronização do tempo que é contemplado em períodos. Ou seja, existe uma contagem finita em anos, que contemplam meses, semanas, dias e horas. 

O nosso tempo na Terra é compreendido de maneira lógica, evidenciando a finitude da possibilidade do tempo de vida humana. Assim a gente tem uma ideia de marcação de maturidade; divisão de etapas evolutivas do cérebro, do envelhecimento da pele; cronometragem do tempo que você ainda tem por aqui.

Portanto, a passagem de um ano para o outro possui um efeito placebo motivacional que é como se de fato uma parte da vida chegasse ao fim, ao passo que a outra parte está para começar, mas na verdade a vida é toda uma só. Ela só tem essa divisão organizacional para que você tenha ciência da passagem do seu próprio tempo.

Feliz ano novo!

quinta-feira, 23 de dezembro de 2021

O Jogo da Forca

 Você se lembra do Jogo da Forca? 

Alguns tracinhos que indicam quantas letras tem a palavra e do lado esquerdo um "poste", com uma linha, em que se pendura um corpo, construído pouco a pouco, cada vez que você errar. 

Olha o que acontece quando você erra o suficiente para criar o boneco:


Você é enforcado.

A nossa inocência jamais viu nada de mais nisso. Crianças brincam disso, até hoje, aprendendo com pessoas que já brincaram disso e jamais viram nada de errado.

Um jovem se enforcou recentemente na minha cidade. Ele se foi. Eu refleti bastante sobre, porque me deparei com esse jogo poucos dias depois e me senti terrivelmente mal ao associar tão claramente aquela consequência.

Veja a mensagem: quanto mais você erra, mais perto fica de ser enforcado. Pesado demais.

Acabamos então com esse jogo? Por que não transformá-lo? Colocar outra consequência, talvez. 

Isso evitará que as pessoas se enforquem? Acho que não. Mas cada passo que a gente dá, cada letra que a gente acerta, mais perto a gente fica de uma sociedade mais consciente e que pelo menos tenta ser melhor.


quarta-feira, 15 de dezembro de 2021

A glamourização do trabalho duro

Há uma antiga frase que diz que o trabalho dignifica e enobrece o homem

Com tantos holofotes e comparações alheias, existe uma tendência generalizada em mostrar serviço. 

É preciso provar que se trabalha duro. Que está até tarde. Que é o último a sair do prédio. Que trabalha no domingo. 

Eu mesmo já fiz isso, mas procuro evitar. 

É flamejante, é interessante, é um reality proposto, fermentado. Tem receita pra fazer. 

Muito trabalho, correria, sim. É realidade, mas eu quero que você saiba, que você tenha a percepção que eu não estou aqui conquistando coisas na sorte. Não estão caindo do céu, apesar de serem bênçãos.

Mas tem limite, o corpo acusa. Uma hora a máquina trava, tem que trocar o óleo. A gente tem vencimento e, se armazenado em local arejado, a gente até dura mais tempo. 


Velocidade

A velocidade é uma constante que transforma a sociedade de maneira absurda, refletindo em tudo: ambições, desempenho, saúde mental e relacionamentos.

Ela traz evolução, resultados rápidos, objetividade.

Ela traz ansiedade, pressão, superficialidade.

Antigamente, o telegrama demorava meses para chegar a um destino. Evoluiu-se para as cartas, que demoravam algumas semanas (até mais, dependendo da distância). O telefone quando surgiu, era algo disputado, pois a telefonista precisava agendar sua ligação. Paciência nem era virtude, era normal.

As ligações telefônicas evoluíram e também surgiram as mensagens eletrônicas, como e-mail e mensagens privadas, que demoram segundos. Quanto mais rápido chega ao destino, mais rápido você quer a resposta. 

Até o áudio do WhatsApp já é perda de tempo. Acelera ele o dobro da velocidade normal. "Não, não quero saber o tom de voz, se a pessoa está respirando e ponderando ao falar. Eu quero ouvir tudo o mais rápido possível. Não precisa interpretar, só receber a mensagem".

O marketing digital e as mídias sociais entregam resultados praticamente instantâneos, muito mais do que o ibope um dia foi capaz de mensurar o alcance de um programa de TV.

Velocidade em agir, em reagir. Ao escrever, ao se arrepender. Quantos já viram? Apaga. 

O que se fala hoje, o que se publica hoje, já é novidade agora, já é velho daqui a dois dias.  

Comidas rápidas, lanches, fast-food. Se a pizza demora 40 minutos é muita coisa.

Perdão por não ter feito um texto que pudesse ser lido mais rápido, mas gratidão por ter lido até aqui.


terça-feira, 14 de dezembro de 2021

A imprevisibilidade da certeza.

Há uma frase que diz que a única certeza da vida é a morte. 

De fato, todos nós iremos morrer um dia. Saber que algo acontecerá, mas não saber quando, como e onde, paradoxalmente, torna o previsível imprevisível. 

E o pior é que quanto mais imprevisível é, mais doloroso fica. 

"Era novo ainda!" - Com tantas possibilidades que já vimos além da morte natural, ainda somos ingênuos em estabelecer a normalidade da morte na velhice. 

Quanto mais previsível é, mais confortável/plausível/aceitável fica. Agora sim, é normal, é fato. Estava sofrendo demais/estava velho demais/ estava muito doente. Vida que segue, bola pra frente. Chegou o dia, não tem pra onde fugir. Mas doi do mesmo jeito. 

O consolo se busca na fé, nas palavras, na reflexão e na valorização do que ainda resta por aqui.  Aconteceu o que já se sabia, é preciso aceitar, é preciso reconhecer, que a gente só vive o que se deixa viver.

A gente nem sabe ao certo o que tem depois. Por que tantas teorias, por que tantas possibilidades? Para que tanto mistério? Qual o ponto disso? Eu só sei que pra tudo na vida existe um motivo, uma razão. Nada é por acaso. Eu só não sei o que faço com essa informação.

domingo, 28 de novembro de 2021

O paradoxo da era digital

É interessante como a nossa era vive um paradoxo constante. 

Relacionamentos

Através da internet, de mensageiros digitais e aplicativos, podemos conhecer pessoas sem sair de casa; podemos iniciar relacionamentos, dizer o que sentimos sem precisar olhar nos olhos ou produzir sons nervosos. Basta escrever e esperar. 

É fácil também falar com muitas pessoas ao mesmo tempo, de diferentes lugares e marcar encontros pessoais. 

Contudo, essa facilidade proporciona tantas opções que muitas pessoas passam por relacionamentos rasos, amizades superficiais. A exposição da vida e do cotidiano permite a livre interpretação dos diversos seguidores, que varia e interfere na relação entre as pessoas.

Não existe regra, mas, em geral, os relacionamentos que não se dispersam em meio às diversas distrações disponíveis, são os que costumam ter mais longevidade. Refiro-me aqui a qualquer tipo de relacionamento, seja amoroso ou de amizade.

Trabalho

Outro paradoxo é no âmbito profissional. 

Em nossa era digital, nunca foi tão fácil divulgar seu trabalho, enviar seu currículo, fazer cursos para se qualificar, fazer network, se profissionalizar, ter informação sobre as carreiras, salários, como se faz isso, como se faz aquilo. 

Por consequência, a pressão por conquistas aumenta. Pois se é mais fácil, você deveria conseguir, certo? 

A concorrência, a comparação entre as pessoas, os profissionais, tudo isso é uma roda inevitável que gira, por conta de todo o acesso rápido e abrangente de tudo. 

Quem está começando agora se depara com uma enxurrada de imagens de pessoas bem sucedidas, pessoas jovens e bilionárias. O jovem sente que tem tudo ao seu alcance e isso é um conforto que disfarça o medo de o tempo passar e ele ficar para trás. 

O medo sempre existiu, mas a projeção da vida alheia hoje é desproporcional a qualquer era anterior. Mesmo que se escolha rapidamente um caminho, é preciso muito foco, persistência e determinação no seu objetivo traçado para poder garantir uma carreira satisfatória.

Música

Um tópico à parte, inesperado. Por que a música está aqui? Por conta da mesma transformação surreal e superficial que está acontecendo.

A música, que em sua essência era pensada como um trabalho sazonal, de construção de um disco com faixas que contam uma história, hoje é pensada para conquistar um público que consome conteúdos de 15 segundos.

As músicas hoje são recursos que complementam fotos, momentos, por áudio no TikTok, no Instagram. Aperta o play na primeira opção e, se em 3 segundos não combinar com seu momento, passa-se para a próxima opção. Enfim a música foi escolhida, em um recorte do refrão, em geral, e uma breve linha de créditos de título e nome aparece no conteúdo, passando por vezes despercebida.

A cantora Adele, que gostaria de ter o resgate da experiência das pessoas ouvirem seu álbum da maneira em que foi construído, solicitou ao "Spotify" que retirasse o botão de reprodução em ordem aleatória na área destinada ao álbum. 

O Sporify concedeu à cantora este desejo, mas não sabemos o quanto isso vai realmente adiantar em um mundo que reproduz tudo em ordem aleatória.

Eu ainda prezo em ouvir um trabalho completo. De buscar mais sobre o artista, se eu gostar de uma música. De saber como é o álbum completo. Às vezes me decepciono, às vezes me surpreendo.

Conclusão

A facilidade traz benefícios, traz velocidade, mas traz consigo desafios gigantes. 

A próxima geração já nascerá em um mundo extremamente digital e que avança em passos largos para a valorização dos relacionamentos à distância e trabalhos remotos. É só o que existirá, então? É evidente que não, mas haverá uma onda de possibilidades nessa linha de pensamento.